Empresa detecta 2 milhões de contas bancárias laranjas no mundo
Levantamento com base em dados de 30% dos principais bancos do mundo revela ainda que jovens servem de escudo para o crime
São Paulo
Especializada em detecção de fraudes digitais e crimes financeiros, a BioCatch detectou cerca de 2 milhões de contas utilizadas para lavagem de dinheiro com base em informações de 257 instituições financeiras clientes da empresa em 21 países.
A BioCatch presta serviços para cerca de 35% das maiores instituições financeiras do mundo e 30% dos principais bancos. Nesse grupo estão, por exemplo, American Express, Barclays, Citi Ventures, HSBC e National Australia Bank.
As 2 milhões de contas laranjas relatadas por nossos clientes em 2024 provavelmente representam apenas uma pequena parte daquelas usadas para atividades de lavagem de dinheiro”, diz Tom Peacock, diretor de inteligência global de fraudes da BioCatch. “Muitas outras, ativas ou inativas, podem estar espalhadas entre as 44 mil instituições financeiras existentes no mundo no ano passado.”
O levantamento mostra detalhes de como o crime organizado utiliza essas contas e quais os perfis de criminosos que lavam dinheiro.
O relatório descobriu que os jovens são cada vez mais recrutados para esse tipo de crime. No Reino Unido, por exemplo, 65% dos laranjas têm menos de 30 anos.
Os jovens são mais vulneráveis porque costumam estar mais dispostos a se arriscar por pouco dinheiro. O estudo mostra que, na Austrália, os laranjas recebem cerca de 500 dólares australianos em troca de acesso a suas contas bancárias.
Os valores movimentados por essas contas, em contrapartida, alcançam cifras astronômicas. De acordo com o Relatório Global de Crimes Financeiros 2024 da Nasdaq, citado pelo estudo da BioCatch, US$ 3,1 trilhões de recursos ilícitos circularam pelo sistema financeiro global somente em 2023.
Grande parte desses recursos é fruto dos crimes cibernéticos. Na União Europeia, 90% das contas laranjas estão ligadas a fraudes no mundo digital.
Embora não haja dados sobre o Brasil, o estudo diz ser importante o avanço de iniciativas no país que permitam o compartilhamento de dados dos bancos para o combate à lavagem de dinheiro.
“Isso poderia trazer mais foco para a detecção de contas laranjas nos próximos anos”, diz a BioCatch.
Recentemente, uma crise de comunicação do governo derrubou uma norma que aumentava a fiscalização sobre transações de pessoas físicas via Pix em valor a partir de R$ 5.000 por mês.
Conforme o Painel S.A. revelou, a revogação da norma frustrou intenções da Receita e da Polícia Federal de fechar o cerco sobre fintechs usadas em esquemas de lavagem de dinheiro. Com Stéfanie Rigamonti
Fonte: Folha de São Paulo