Governo estuda novo tipo de leilão de energia para garantir flexibilidade do sistema

Indicador avaliaria se o sistema é capaz de atender, com rápida resposta, à demanda gerada em determinada hora do dia, por exemplo

Fábio Pupo

Brasília

O governo estuda criar um indicador para avaliar necessidades de geração de energia no país. O novo critério analisaria o quão flexível está o sistema para atender às demandas surgidas em curtíssimo tempo e, a depender dos resultados, pode resultar em um novo tipo de leilão no setor.

Atualmente, há dois critérios principais para monitorar a geração. Um deles é o indicador energético, que avalia a garantia de suprimento de energia ao longo de períodos mais extensos (como meses ou anos). Outro é o indicador de potência, que analisa a capacidade de o sistema atender à demanda máxima existente.

Pela ideia, seria criado um indicador de flexibilidade operativa. Ele avaliaria se o sistema é capaz de atender, com rápida resposta, à demanda gerada em momentos específicos –que pode surgir em determinada hora do dia, por exemplo.

Caso o indicador aponte que o sistema é deficiente em flexibilidade, os dados podem desencadear a decisão por novos leilões voltados especificamente a resolver esse problema. O debate atualmente está em estabelecer um prazo para a criação do indicador.

A flexibilidade seria proporcionada pelas hidrelétricas, de acordo com envolvidos nas discussões. Essas usinas têm condições de elevar rapidamente o atendimento em momentos de urgência.

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) pode comunicar à usina, por exemplo, que em dez minutos deve haver aumento de geração em 200 megawatts. Essa necessidade pode ser observada, por exemplo, em um dia de temperaturas mais altas –quando há um consumo mais intenso devido ao acionamento de aparelhos de ar-condicionado.

A discussão também está ligada às mudanças climáticas, já que o aumento da temperatura e a maior imprevisibilidade aumentam a necessidade de uma matriz mais versátil.

A flexibilidade analisada pelo novo critério não existe nas usinas de fontes intermitentes. São aquelas que não têm garantia de geração contínua, pois dependem de fatores naturais –eólicas e solares, no caso do Brasil.

A necessidade de mudanças surgiu justamente devido ao crescimento das fontes solar e eólica na matriz elétrica brasileira nos últimos anos. Por um lado, elas tornaram a geração do país mais renovável; por outro, fizeram a geração ser mais dependente de fontes intermitentes –comprometendo a confiabilidade no sistema.

A Abrage (Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica) afirma que o caminho é elevar a geração hidrelétrica porque a necessidade de maior flexibilidade vai ser cada vez maior ao longo dos anos devido ao crescimento das renováveis.

Marisete Pereira, presidente da Abrage, afirma que a demanda de flexibilidade para atendimento rápido (a chamada rampa) já atendida pelas hidrelétricas em 2024 é de até 35 gigawatts. Em 2028, o número pode chegar a 58 gigawatts.

Ela diz que há um grande potencial para elevar o aproveitamento de hidrelétricas já construídas, mas que também é preciso autorizar outras. “A gente não pode prescindir de fazer novos aproveitamentos. Nós dispomos de 12% da água doce do mundo”, afirma.

O aumento de participação das renováveis na matriz elétrica também influencia outra discussão, a do horário de verão. O ONS recomendou neste ano o retorno da medida baseado nas indicações de que ela aliviaria a demanda entre 18h e 20h e elevaria a eficiência do SIN (Sistema Interligado Nacional). De acordo com o relatório do ONS, a aplicação do horário de verão poderia trazer uma redução de até 2,9% da demanda máxima, o que diminuiria a necessidade de geração termelétrica e traria uma economia no custo da operação próxima a R$ 400 milhões entre os meses de outubro e fevereiro. O governo deve retomar o debate no ano que vem.


Fonte: Folha de São Paulo

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