Lula diz que Petrobras tem de pensar em investimento e vê choradeira do mercado; ações caem
Presidente chama mercado de dinossauro voraz; papéis que estavam em alta invertem sinal
Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (11) que a Petrobras tem de pensar nos 200 milhões de brasileiros que são donos, sócios dela, não apenas acionistas.
O mandatário chamou ainda o mercado financeiro de “dinossauro voraz”, que quer tudo para ele. A declaração ocorreu em meio a uma crise envolvendo a companhia.
A Petrobras anunciou, na quinta-feira (7), queda no lucro e não distribuiu todos os dividendos, o que levou a um temor por pressão do Planalto sobre a companhia e fez desabar as ações da empresa.
A petroleira perdeu mais de R$ 55 bilhões em valor de mercado na sexta-feira (8). As ações caíram mais de 10%, e os ADRs (recebidos de papéis negociados nos Estados Unidos) também recuaram.
No pregão desta segunda, as ações da petroleira chegaram a apresentar recuperação e operaram em alta na maior parte do dia, mas passaram a cair após as declarações do presidente.
No fim da tarde, a Petrobras fechou em queda de 1,30% nos papéis preferenciais (sem direito a voto) e 1,95% nos ordinários (com direito a voto). Desde sexta, empresa já perdeu R$ 63,7 bilhões em valor de mercado.
“O que eu acho é que a Petrobras, que é empresa em que o governo tem ascendência sobre ela, é importante ter em conta o seguinte: a Petrobras não é apenas uma empresa de pensar nos acionistas que investem nela, porque a Petrobras tem que pensar no investimento e pensar em 200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa ou sócios dessa empresa”, disse Lula, em entrevista ao SBT.
“Se eu for atender apenas a choradeira do mercado, você não faz nada. Porque o mercado, vou contar uma coisa para vocês, mercado é um rinoceronte, dinossauro voraz. Ele quer tudo para ele, nada para o povo. Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome?”, questionou.
A entrevista foi gravada na manhã desta segunda e trechos foram divulgados ao longo do dia. A íntegra estava prevista ao ar no no ite desta segunda.
O presidente falou ainda na utilização da fatia dos recursos que não foi distribuída em investimentos da companhia, como para fazer “mais pesquisa, mais navio, mais sonda”.
O Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), uma das vitrines do governo Lula 3, tem mais de R$ 300 bilhões da Petrobras.
“Então, tivemos uma conversa séria aqui do governo com a direção da Petrobras, porque a gente acha que é importante a gente pensar na Petrobras, é preciso pensar nos acionistas, mas é preciso a gente pensar no povo brasileiro”, afirmou.
Mais uma vez, também, Lula prometeu reduzir o preço do combustível, sem entrar em maiores detalhes. Ele criticou o PPI (Preço de Paridade de Importação), ao dizer que que não tem porque o preço ser equiparado ao internacional.
Essa política foi instituída no governo Michel Temer (MDB) e mantida na gestão Jair Bolsonaro (PL). O governo petista abandonou o PPI, e agora a política considera entre os indicadores de preço o custo de produção interno dos produtos e a competição pelos mercados.
O presidente disse ainda, na entrevista, que a economia não está tão bem quanto queria que ela estivesse, apesar de ter crescido mais do que o esperado no ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) fechou acima do esperado com 2,9%.
“Economia está bem, mas não está tão bem quanto a gente quer que ela estivesse. Porque vamos trabalhar para a economia ficar muito melhor. (…) Quando eu deixar a Presidência em 2026, quero deixar economia mais forte, salário mais forte, emprego mais forte, e participação das pessoas no consumo da sociedade brasileira mais forte. Para isso, temos que baratear produtos, baratear alimento”, disse.
O presidente participou à tarde de uma reunião com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).
No X (antigo Twitter), Lula postou uma foto do encontro, sem citar os dividendos.
“Boa reunião com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, os ministros Fernando Haddad, Alexandre Silveira e Rui Costa, e a diretoria da empresa. Conversamos sobre investimentos em fertilizantes, transição energética, enfim, no futuro do nosso país”, escreveu o presidente.
Na saída do encontro, ficaram responsáveis pelo pronunciamento Haddad e Silveira.
O ministro da Fazenda disse que o conselho de administração da empresa vai voltar a se reunir e usar números a serem apresentados pelos executivos da estatal nas próximas semanas.
“A diretoria vai ao longo das próximas semanas prestar as informações para o conselho e o conselho vai julgar, já que o dinheiro está reservado em uma conta específica de remuneração de capital”, disse.
A retenção dos dividendos levou a uma nova crise na Petrobras, com ações despencando, e a mais um capítulo de briga nas entranhas do governo.
A disputa se concentra, sobretudo, entre Prates e Silveira, com Haddad do lado do presidente da Petrobras e Costa, do outro. Integrantes da cúpula da Petrobras afirmam que Lula foi induzido a erro pelo Ministério de Minas e Energia, comandado por Silveira, ao avalizar a retenção dos dividendos extraordinários da Petrobras.
Fonte: Folha de São Paulo