Pressa em tentar ampliar gastos pode afetar a credibilidade da política econômica de Lula

Rogério Werneck
Lula da Silva bem sabia que, sem ampliar em grande medida sua base de apoio no Congresso Nacional, lhe seria difícil governar. A grande questão é de que forma tal ampliação de base seria assegurada.
Terminada a eleição, ainda havia um fio de esperança de que, afinal, Lula se moveria inequivocamente para o centro, no eixo que de fato importa, que é o da condução da política econômica. E de que sua busca de apoio mais amplo no Congresso seria norteada pela necessidade de garantir respaldo a tal movimento.
Fazer a coisa certa” desde o início, de forma a assegurar um bom desempenho da economia, daria ao governo Lula mais resiliência para novo embate com o bolsonarismo em 2026. Mas estariam Lula e o PT preparados para abandonar seu velho ideário e adotar para valer um programa econômico de centro? Ou, aferrados a esse ideário, estariam propensos a tentar negociar “em outros termos” a ampliação do apoio ao governo no Congresso?
Não há, entre parlamentares de centro-direita, especial apego à ideia de “fazer a coisa certa” na condução da política econômica. Se Lula preferisse, estariam prontos a negociar a ampliação do apoio “em outros termos”. A grande diferença é que, sem assegurar um bom desempenho da economia, Lula poderia marchar para paulatina fragilização de seu governo.
Mal passados três dias do segundo turno, contudo, o novo governo deixou claro que o que deverá pautar a ampliação de sua base parlamentar não será em absoluto a necessidade de “fazer a coisa certa”. A preocupação é tão somente conseguir extrair do Congresso licença para expandir os gastos do governo em 2023, muito acima do que hoje permitem as restrições fiscais em vigor.
O que se alega é que o presidente eleito tem promessas de campanha a honrar. E que sua credibilidade ficará comprometida caso não sejam honradas. A governabilidade estaria em jogo, como chegou a ser alegado.
Chama a atenção a sem-cerimônia com que o governo eleito se permitiu deflagrar negociações com o Congresso para viabilizar tamanha expansão de gastos, sem nem mesmo ter definido quem serão os novos responsáveis pela condução da política macroeconômica. E sem sequer ter esboçado como pretende assegurar que a gestão das contas públicas nos próximos anos estará pautada pela sustentabilidade fiscal.
Ao se apressar a pagar promessas de campanha para não perder credibilidade com seus eleitores, o novo governo parece não ter se dado conta de que já pode ter incorrido em grave perda de credibilidade da política econômica que adotará.


Fonte: Estadão

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