O agronegócio e a rejeição a Lula
Celso Ming
Comentarista de Economia
Por que o agronegócio, um dos setores mais dinâmicos do País, mostra tão grande rejeição à candidatura Lula?
No debate entre os candidatos à Presidência da República no segundo turno, realizado pela TV Bandeirantes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assegurou que, em seu novo governo, não haverá invasão de terras. Não ficou claro se essa afirmação foi contraponto às ocupações e à queima da Floresta Amazônica durante o governo Bolsonaro ou se era um jeito de desautorizar as invasões pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em setembro, o líder do MST, João Pedro Stédile, prometera retomar as invasões, caso Lula vencesse as eleições.
O MST não se limitou a invadir terras. Também destruiu canteiros de pesquisas científicas com novas variedades de plantas, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, sob a alegação de que favoreciam monoculturas.
Tudo isso acirrou a repulsa dos produtores rurais, que não parou nos grandes proprietários de terras. Levou consigo a agricultura familiar e a imensa rede de apoio à agropecuária espalhada nas áreas de transporte, armazenamento, tecnologia, assistência técnica, fornecimento de insumos, etc.
Um dos equívocos persistentes entre os economistas do PT é o de que o agronegócio é atividade que emprega pouca mão de obra. Não enxergam a contribuição para o emprego na agroindústria e na área de serviços diretamente a ela ligada – que julga que seus interesses são fortemente prejudicados pela mobilização do MST.
O programa do PT é vago em relação à política para o agronegócio, que cresce a cada ano em participação do PIB brasileiro – em 2021, foi de 27,4%. Fala em compromissos com a soberania alimentar, com a sustentabilidade socioambiental e propõe novo modelo de ocupação das terras, sem dizer o que isso significa. E continua defendendo a reforma agrária, proposta não colocada em prática nos 14 anos em que ocupou a Presidência da República. A Carta para o Brasil de amanhã divulgada nesta quinta-feira se omite sobre o tema.
Como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso observou mais de uma vez, o momento adequado para uma reforma agrária ficou para trás. Diante do sucesso do agronegócio, não dá para insistir no velho apelo de que é necessário combater o “latifúndio improdutivo”.
Nestes meses de campanha, o candidato Lula fez pouco para desfazer a onda contrária a ele a partir do interior do País. Mas ele parece convencido de que, se vencer as eleições, não poderá ficar alheio a mais essa oportunidade de garantir mais produção de alimentos (e de picanha) para o brasileiro, mais renda para o interior e faturamento de mais dólares com exportações de grãos e de proteína animal.
Fonte: Estadão