Entenda como o 5G pode impactar indústria, agronegócio e saúde
Com baixa latência e alta velocidade, tecnologia permite transação rápida de dados confiáveis
Paula Soprana
São Paulo
A quinta geração de internet móvel pode demorar até oito anos para estar disponível a todos os brasileiros, mas o leilão de 5G realizado nesta quinta-feira (4) em Brasília representa o pontapé inicial para que diversos setores da economia tracem estratégias de longo prazo baseadas em maior conectividade.
Além do 5G, o leilão define obrigações às operadoras que arrematarem as frequências, entre elas a massificação da cobertura 4G no país.
Dados da consultoria GSMA indicam que 18% da base móvel brasileira será de 5G em 2025. Com velocidade superior e baixa latência (tempo de transferência de um pacote de dados de um ponto a outro), a tecnologia é associada a aumento de produtividade.
A velocidade do 5G alcança, em média, 1Gbps, sendo dez vezes mais rápida que o 4G. Em alguns testes de laboratório, foi cem vezes superior. Um exemplo: para baixar um filme em HD no 5G, é preciso aguardar seis segundos. O mesmo arquivo demanda cerca de seis horas no 4G.
No Brasil, um dos setores que aguarda benefícios do 5G é o agronegócio —em parte porque o campo é descoberto de internet, com conexão em apenas 23% do espaço agrícola. A chegada do 4G já deve estimular a produtividade das lavouras, segundo analistas, permitindo atividades como irrigação precisa, por meio de sensores, e rastreamento de animais.
Como o 5G é ligado à conexão de objetos, não de pessoas, várias estimativas apontam para um crescimento exponencial do setor de IoT (Internet das Coisas) à medida que a tecnologia se difundir. De acordo com a Insider Intelligence, 12 milhões de sensores agropecuários devem estar operantes em 2023.
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Com chips embarcados em plantações, a gestão das fazendas conseguirá identificar a situação sanitária das lavouras (desde alterações na superfície das plantas à necessidade de água) e monitorar o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Em grandes propriedades, drones com sistemas de inteligência artificial são capazes de aplicar pesticidas após uma rápida radiografia nas plantas.
\”O aumento de produtividade é óbvio, só não sabemos quando vem. A maior transformação será na gestão das fazendas, que terá decisões apoiadas em dados coletados, em fatos, e não mais em intuição\”, diz Ricardo Inamasu, da Embrapa.
Assim como no agro, a indústria também aguarda novas formas de gestão, principalmente remota.O 5G tende a estimular a captação de dados das máquinas e, devido à baixa latência, esses registros são rapidamente computados, o que agiliza a tomada de decisões.
Em diversas indústrias de manufatura, fabricantes vislumbram novos níveis de otimização das linhas de montagem, com a adoção de realidade aumentada e virtual, tecnologias capazes de simular ambientes e exibir sobreposições à realidade.
Em empresas de países que já adotam a tecnologia, é possível parar a produção de um automóvel, por exemplo, por meio de um tablet ou um celular. Seria possível parar uma fábrica com o 4G. A diferença é que o 5G permite mais confiabilidade devido à rapidez, tornando a comunicação de dados quase imediata.
\”O que já existe de mais palpável hoje em outros países são o controle de estoque e a manutenção por realidade aumentada e drones, a agricultura robotizada e as fábricas de automóveis, que já operam sem necessidade de intervenção humana\”, diz Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis, que agrega as grandes operadoras.
Embora o setor produtivo seja beneficiado em larga escala, o consumidor final recebe incremento de velocidade para atividades online, como estudo e entretenimento.
Na saúde, a maior promessa vem do setor de telemedicina, que já realiza testes para cirurgias remotas operadas com braços mecânicos. Uma iniciativa do Hospital de Clínicas da USP com vários parceiros, como Siemens, Itaú e Deloitte, testa um sistema de atendimento remoto em áreas desassistidas de infraestrutura médica. A partir de uma rede privativa de 5G, imagens poderão ser analisadas por médicos de grandes centros quase em tempo real, que auxiliarão doulas ou paramédicos em áreas remotas.
\”Costumamos olhar para aplicações de 5G em países mais ricos, que já têm infraestrutura, mas no Brasil podemos mirar em outros aspectos, como uso da tecnologia para ampliar o acesso à saúde\”, diz Marcia Ogawa, sócia-líder da Indústria de Tecnologia, Mídia e Telecom da Deloitte.
Para ela, a principal diferença entre o 4G e o 5G é que a oferta relacionada à primeira tecnologia teve foco no consumidor, enquanto a segunda deve impulsionar o surgimento de novas soluções e equipamentos a empresas inseridas na cadeia.
Uma projeção da Nokia, que participa da construção de redes 5G, indica que a tecnologia movimentará US$ 1,2 bilhão (R$ 6,7 bilhões) de produção social e econômica no Brasil em 2035. As áreas mais impactadas segundo a empresa serão manufatura, serviços, agricultura e varejo.
Fonte: Folha de São Paulo