Voto de desempate no Carf eleva ganho da União, mas contribuinte continua maior vitorioso

Do total de R$ 278 bilhões julgados em 2023, 61% beneficiaram pessoas ou empresas

Lucas Marchesini

Brasília

Os julgamentos do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) decididos por meio do chamado voto de desempate, recriado em 2023, ajudaram a elevar as receitas da União no ano passado. Ainda assim, o instrumento não foi suficiente para mudar o favoritismo do contribuinte nas conclusões do órgão.

Foram R$ 278 bilhões julgados em 2023 pelo Carf. Desse total, 15% (ou R$ 40,9 bilhões) foram decididos por meio do voto de desempate e, de acordo com o Ministério da Fazenda, a Receita Federal foi vitoriosa na “esmagadora maioria” desses casos.

Recriado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano passado em meio à busca por mais receitas federais, o voto de desempate é do presidente da sessão, um representante da Fazenda. Antes da recriação, o empate era automaticamente favorável ao contribuinte.

O voto de desempate, encerrado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), foi recriado pelo atual governo por meio de MP (medida provisória). A iniciativa enfrentou uma série de resistências entre empresários e parlamentares, que ligaram a medida a uma “sanha arrecadatória” da atual gestão, e acabou aprovada por meio de projeto de lei após concessões feitas pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Mesmo com a volta do instrumento, no entanto, pessoas e empresas que disputam os casos com a União saíram vitoriosas em 61% (ou R$ 169 bilhões) dos recursos julgados pelo Carf em 2023. O valor é mais baixo que em 2022 (78%), quando o mecanismo havia sido extinto e os empates favoreciam automaticamente o contribuinte, mas fica pouco abaixo da média de 62% observada nos anos pré-pandemia (2018 e 2019).

O presidente do Carf, Carlos Higino, afirma que as mudanças foram benéficas e que têm ajudado a diminuir a quantidade de casos que continuam em discussão na esfera judicial. Isso porque o contribuinte que aceita o resultado do julgamento decidido por voto de desempate sem recorrer ao Poder Judiciário tem juros e multa abatidos.

“O voto de qualidade com benefícios [tem o mérito] de tentar diminuir o litígio, para que a discussão não vá para o Judiciário. Em caso de decisão com o voto [de desempate], fica sem multa, que pode chegar até 220% do valor. E se pagar em 90 dias tira também o juro”, disse.

O Carf é paritário, com metade dos conselheiros indicados pelos contribuintes e a outra metade pelo governo federal. Já os presidentes de cada turma são escolhidos entre os nomeados pela Receita Federal.

Para Higino, o tempo tomado para resolver as disputas é uma questão central a ser enfrentada pelo órgão. “O principal problema que vemos é que contencioso demora demais”, apontou Higino.

A lei que rege o funcionamento do órgão define que todo recurso deve ser julgado em até um ano. Isso acontece na última instância, cujo tempo médio de decisão é de 345 dias.

O problema maior está na instância logo abaixo, a primeira no Carf, cujo tempo médio de julgamento é de 1.269 dias (3,4 anos).

A meta de Higino é conseguir reduzir, até 2026, esse tempo médio para o que diz a lei: 365 dias. Esse será o foco do esforço a partir de 2025. Neste ano, o objetivo principal é reduzir o valor total em julgamento ao decidir sobre grandes casos.

Para isso, o Carf está desenvolvendo duas novas ferramentas em parceria com a estatal Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados). A primeira é a criação de um plenário virtual nos moldes do que já acontece no STF (Supremo Tribunal Federal). A ideia é utilizá-lo a partir do segundo semestre para casos menores. Já os processos que envolvem cifras maiores continuarão a ser discutidos no plenário tradicional.

A segunda é uma ferramenta de inteligência artificial para ajudar os conselheiros na redação dos seus votos. A ideia é criar um programa que usa aprendizagem de modelo de linguagem, software semelhante ao Chat GPT. O programa será alimentado com decisões do Carf e de outras instâncias.

O problema maior está na instância logo abaixo, a primeira no Carf, cujo tempo médio de julgamento é de 1.269 dias (3,4 anos).

A meta de Higino é conseguir reduzir, até 2026, esse tempo médio para o que diz a lei: 365 dias. Esse será o foco do esforço a partir de 2025. Neste ano, o objetivo principal é reduzir o valor total em julgamento ao decidir sobre grandes casos.

Para isso, o Carf está desenvolvendo duas novas ferramentas em parceria com a estatal Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados). A primeira é a criação de um plenário virtual nos moldes do que já acontece no STF (Supremo Tribunal Federal). A ideia é utilizá-lo a partir do segundo semestre para casos menores. Já os processos que envolvem cifras maiores continuarão a ser discutidos no plenário tradicional. A segunda é uma ferramenta de inteligência artificial para ajudar os conselheiros na redação dos seus votos. A ideia é criar um programa que usa aprendizagem de modelo de linguagem, software semelhante ao Chat GPT. O programa será alimentado com decisões do Carf e de outras instâncias.


Fonte: Folha de São Paulo

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