Transição verde aumenta eficiência, mas antes há aumento de custos, diz Campos Neto

Para presidente do BC, tributação deveria ser o mais neutra possível nessa discussão

Nathalia Garcia

Brasília

A transição para uma economia mais verde aumentará a eficiência das cadeias de produção, mas antes haverá um aumento de custos de investimentos para as empresas, afirmou nesta quarta-feira (21) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Segundo o chefe da autoridade monetária, há uma preocupação por parte das companhias com a elevação de custos produtivos, embora entendam a importância do processo.

A transição verde representa um custo a mais na cadeia produtiva ou, no final das contas, ela aumenta a eficiência da cadeia produtiva? O que a gente vê das pesquisas é que, no final, ela até aumenta a eficiência, mas isso não é linear no tempo”, disse Campos Neto em evento promovido pela Frente Parlamentar da Economia Verde, em Brasília (DF).

“Ou seja, em um primeiro momento, tem de investir mais e tem um aumento de custos, depois esse aumento de custos se transforma em eficiência”, complementou.

Campos Neto ressaltou que o mundo está passando por um rearranjo das cadeias globais de produção, afetadas por choques climáticos e novos conflitos geopolíticos, e que esse movimento “está custando dinheiro”.

“É muito importante ter um processo de produção mais sustentável, mas as empresas têm no meio do caminho um aumento de custos”, afirmou ele, defendendo a importância de um conjunto de regras (taxonomia) globais e brasileiras para guiar essa transição.

Na visão do presidente do BC, a tributação tem um papel fundamental nesse processo e deveria ser o mais neutra possível com relação à alocação de recursos. Ele rejeita uma ampliação da concessão de subsídios para os setores.

“A criação do mercado e a transparência dos dados faz com que os recursos sejam alocados em setores mais eficientes de forma mais natural”, disse.

Para Campos Neto, “nem sempre gastar mais subsídio significa atingir os objetivos”. “A gente precisa ter uma política constante de revisar tudo o que é feito para práticas sustentáveis, tem um processo de aprendizado ao longo do caminho”, acrescentou.

Ele ainda destacou o potencial do país nesse movimento global rumo a uma economia mais verde.

“O Brasil tem energia limpa e barata, tem mão de obra relativamente farta, tem setor de escoamento e logística que é bom e tem população consumidora bastante grande. Por que não estamos produzindo mais bens no Brasil? Como atrair o investidor para cá?”

Hoje, o Brasil tem a maior parcela de sua geração a partir de energia limpa, com as hidrelétricas, e se destaca com o aumento da capacidade de geração a partir da luz solar e de ventos. Apesar dos avanços na área, o país segue aumentando extração de petróleo.

Entre as iniciativas para canalizar financiamentos para práticas sustentáveis, Campos Neto citou o bureau de crédito verde, criado pelo BC, e as emissões verdes feitas pelo governo Lula (PT).

Em novembro do ano passado, o governo brasileiro levantou US$ 2 bilhões com a primeira emissão soberana de títulos sustentáveis no mercado internacional. A iniciativa teve como objetivo colocar o país no mapa das economias que captam recursos sob compromisso de investi-los em ações com o selo ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança).


Fonte: Folha de São Paulo

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