Greve da Receita se torna probabilidade concreta para a primeira quinzena de junho

Em meio ao esforço arrecadatório para garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal a longo prazo, a possibilidade de uma greve dos auditores da Receita Federal surge mais claramente no horizonte. Há um clima crescente de insatisfação na categoria pela falta de regulamentação do bônus de produtividade, que há mais de dois meses chegou a ser anunciado para o dia seguinte pelo secretário da Receita, Robinson Barreirinhas, em áudio enviado aos servidores e que no fim das contas não ocorreu.
Fontes ligadas aos servidores informaram ao JOTA que, dada a falta de sinalização clara do governo sobre o equacionamento desse problema, já há discussões para uma possível paralisação ainda na primeira quinzena de junho. Para o próximo dia 1º, quinta-feira que vem, está definido e anunciado oficialmente que os auditores que trabalham em portos farão um movimento no qual deixarão de atuar conforme a amostragem normal, apertando a fiscalização e, consequentemente, provocando filas e atrasos na liberação.
O clima de insatisfação já se reflete em uma produtividade menor dos servidores, o que afetou, por exemplo, a divulgação dos dados da arrecadação, que era para ter ocorrido nesta semana e não foi. A Receita não quis comentar.
O governo tem pedido paciência para os funcionários alegando que é preciso ter mais clareza sobre o cenário fiscal, inclusive a tramitação do arcabouço, que agora foi para o Senado. Mas, segundo o JOTA apurou, há um temor na equipe econômica de que, ao se adotar a medida, que tem previsão legal e já foi reconhecida até pelo ministro Fernando Haddad, outras categorias iniciem pressão para ter benefício similar. Entre elas, estão Tesouro, CGU, Banco Central e outras carreiras classificadas como típicas de Estado.
Além da questão do bônus, a categoria dos auditores cobra mais contratações, dado que tem havido grande número de aposentadorias sem reposição. Isso aumenta a pressão sobre os servidores remanescentes. O problema também esbarra nas restrições fiscais do governo e na estratégia mais ampla para a gestão de servidores, que ainda está sendo construída.
A ver como o governo vai lidar com o aumento da pressão nas próximas semanas, mas os servidores do Fisco têm ao seu lado a forte dependência do plano econômico do governo de arrecadar mais e em várias frentes. A tensão promete aumentar e Haddad precisa estar atento.
Fabio Graner – Analista de economia do JOTA em Brasília


Fonte: JOTA

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