Promessa de Haddad sobre âncora fiscal anima mercado
Enquanto o governo Lula esfriava temporariamente o debate sobre a elevação da meta de inflação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou para março o anúncio de novo arcabouço fiscal para substituir o teto de gastos. O compromisso assumido nesta quarta-feira, quase véspera do carnaval, adianta em um mês o envio do projeto ao Congresso.
A fala do ministro foi bem-recebida pelos agentes do mercado financeiro, após a crise aberta com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em torno do atual nível elevado da taxa Selic, de 13,75% ao ano, e a pressão do presidente Lula para um afrouxamento da meta de inflação.
O mercado financeiro gostou do que ouviu e já teve gente que até mesmo passou a vislumbrar a possibilidade de a taxa Selic começar a cair no primeiro semestre.
A promessa, porém, conta com uma boa dose de ousadia do ministro, uma vez que as discussões sobre o modelo ainda não estão em estágio amadurecido no campo técnico.
Haddad e equipe terão de correr agora para ajustar os ponteiros ainda divergentes e aqueles que ainda estão crus. Sim, essa é a realidade.
Do ponto de vista de estratégia fiscal, é inegável que Haddad está fazendo um desvio de rota (ainda que com alcance não totalmente bem percebido) ao antecipar o anúncio.
Havia – e, porque não dizer, ainda há – atores importantes do governo e parlamentares aliados que se movimentam para que a reforma tributária saia na frente do novo arcabouço.
Essa postura é centrada na crença de que a reforma tributária está mais madura e de que não há tempo a perder para aprová-la nos primeiros meses do governo. Mas há também a situação de que o projeto do arcabouço não está assim tão adiantado como muitos imaginam.
O próprio ministro Haddad apostou na ideia de que a reforma tributária poderia tramitar com o projeto de arcabouço fiscal.
O ruído em torno da meta de inflação acabou impondo a aceleração do projeto do novo arcabouço fiscal. Parece que ficou claro que, ao mudar a meta de inflação sem a âncora fiscal, com os agentes financeiros totalmente no escuro sobre a nova regra para o controle das contas públicas, as expectativas de inflação só iriam aumentar.
Quanto mais rápido um bom projeto for aprovado, melhor para acelerar a janela do início de queda dos juros. Foi o que os preços dos ativos mostraram depois da fala de Haddad. Não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos. O governo terá de decidir o que aprovar primeiro.
Fonte: Estadão