Haddad diz que vai formar ‘equipe plural’ na Fazenda e vai anunciar dois nomes nesta terça

BRASÍLIA – O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, afirmou que deve anunciar nesta terça-feira, 13, dois ou três nomes de pessoas que integrarão sua equipe. Segundo ele, a ideia é formar um secretariado “plural, com pluaridade de vozes”.
“Quero compor uma equipe plural. Não quero uma escola de pensamento comandando a economia. Quero pluralidade de vozes no ministério”, disse Haddad a jornalistas.
Como mostrou o Estadão, alguns nomes devem estar na lista, como o de Bernard Appy, cotado para cuidar da reforma tributária. A avaliação é que Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal, acumulou muita experiência sobre a reforma tributária nos últimos 15 anos e o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem agora a oportunidade de renovar essa agenda para a aprovação.
O economista Gabriel Galípolo é o preferido por Haddad para ser o secretário executivo do Ministério da Fazenda, mas há dúvidas se vai aceitar a vaga de número 2 da Fazenda. Pressões nesse sentido estão em andamento. Já o economista Guilherme Mello é também cotado para a equipe de Haddad, mas seu nome é citado nos bastidores também para uma eventual equipe de Aloizio Mercadante no BNDES.
“Vou ver também quem o presidente designa para o Planejamento, porque aí acho que podemos fazer uma coisa mais legal ainda, compor uma equipe com traço mais plural”, reformou Haddad. A preocupação de Haddad é montar uma equipe técnica, mas que aponte um alinhamento com o futuro ministro do Planejamento.
Na última sexta-feira, Lula anunciou os cinco primeiros ministros de seu futuro governo. Além de Haddad, foram confirmados Rui Costa (Casa Civil), José Múcio Monteiro (Defesa), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública).
O Ministério da Fazenda no governo Lula 3 será responsável por apenas parte das atribuições que, hoje, estão concentradas no ‘superministério’ da Economia chefiado por Paulo Guedes. Haddad e Guedes farão uma reunião nesta terça. Segundo o futuro ministro, será mapeado o trabalho de cada secretaria da pasta e que ações estão em curso. De acordo com ele, não há intenção do governo eleito de descontinuar projetos considerados aderentes aos planos econômicos do presidente Lula.
Haddad disse que sugeriu nomes a Lula para o Planejamento, mas caberá ao presidente eleito fazer a escolha e o anúncio oficial do nome. “Fiz ponderações, a decisão é dele. Mas como ele falou ‘quero um ministro afinado com você’, eu fiz algumas ponderações, quero que as equipe estejam muito integradas. Vai ser muito importante a integração nesse momento para deslanchar as providências que precisamos tomar para sanar o que estamos herdando”, disse.
Como mostrou o Estadão, conversas recentes indicam novamente a possibilidade de escolha de um ex-governador para o cargo. Entre os cotados novamente está Wellington Dias, ex-governador do Piauí e senador eleito.
O economista André Lara Resende continua no páreo. Segundo um interlocutor do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, Resende “tem uma visão contemporânea e grande conhecimento” e terá espaço se quiser participar do novo governo.
Já para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), o mais cotado é o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, para comandar o novo Mdic. Ele tem relação com Lula e apoio de setores empresariais. Gomes está na presidência deste janeiro. Uma nova assembleia da Fiesp foi agendada para o próximo dia 21, o que ampliou crise na entidade das indústrias paulista.
Banco Central
Haddad ainda vai almoçar com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta terça. Campos Neto tem mandato até o fim de 2024 e já afirmou que não pretende renovar o mandato. Haddad disse que caberá ao novo governo a escolha do sucessor dele e também de diretores do BC que deixarão os cargos.
Em fevereiro de 2023, terminam os mandatos dos diretores de Política Monetária e de Fiscalização, que não devem ser reconduzidos ao cargo. Segundo Haddad, é preciso respeitar a nova institucionalidade do BC, com a autonomia aprovada em lei e mandatos de quatro anos para os diretores.
“É inédito no Brasil um ministro da Fazenda assumir já tendo um presidente do BC com mais dois anos de mandato. Temos que tratar isso com muito zelo para construir essa relação. Obviamente que o governo tem a prerrogativa de daqui a dois anos indicar o presidente do BC e, nesse meio tempo, os diretores cujo mandato, por acaso, tiverem expirado. Amanhã vou dar detalhes sobre a relação com o Banco Central”, disse.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, a demora em discutir as indicações para o BC ligou a luz amarela em figuras que mantêm interlocução com Haddad. A preocupação é ter que escolher, no próximo ano, alguém de afogadilho para um cargo da importância de diretor da autoridade monetária. As indicações são feitas pelo Poder Executivo e votadas no Senado, que, a partir de 2023, terá uma bancada bolsonarista de peso.
A diretoria de Política Monetária é responsável por administrar a execução dos mecanismos utilizados para manter a taxa Selic efetivamente na meta definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e também pela política cambial, com o objetivo de manter o regular funcionamento dos mercados. Estão sob o guarda-chuva da diretoria ainda as orientações técnicas sobre reservas internacionais e o STR, sistema no qual ocorrem as transferências bancárias. Já a Diretoria de Fiscalização é responsável pela supervisão das instituições reguladas pelo BC e pelo monitoramento da eficiência e saúde do sistema financeiro.
Conforme mostrou o Estadão/Broadcast em agosto, os atuais diretores Bruno Serra (Política Monetária) e Paulo Souza (Fiscalização) devem deixar o BC no fim de seus mandatos, em 28 de fevereiro de 2023. A lei de autonomia do órgão, aprovada em 2021, permite uma recondução ao cargo, mas o presidente do BC, Roberto Campos Neto, defende que, se renovado, o mandato tem de ir até o fim, para fortalecer a nova legislação.
O próprio Campos Neto tem dito que fica no cargo até o fim de seu mandato, em 31 de dezembro de 2024, mas que não aceitaria uma recondução – que precisaria de decisão do presidente da República, mas não de outro aval do Senado. Logo após a eleição de Lula, a avaliação nos bastidores do BC é de que as indicações seriam um assunto para os primeiros dias do governo eleito, considerando também que as sabatinas no Senado só devem ocorrer após as eleições para o comando do Congresso, em fevereiro. Mesmo que não sejam reconduzidos ao cargo, porém, os atuais diretores podem estender o tempo no órgão, para não desfalcar o BC enquanto os novos nomes não são aprovados.


Fonte: Estadão

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