Avanços ambientais, lentidão na diversidade: pesquisa mostra como está o ESG entre empresas da B3

A consultoria PwC e o Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon) realizaram a segunda edição da pesquisa ‘ESG no Ibovespa’, que visa avaliar como as empresas brasileiras listadas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, lidam com a pauta, que advoga pelo avanço nas preocupações ambientais, sociais e de governança (‘environmental, social and governance’, em inglês) às empresas. Após a primeira, feita em 2021, foram avaliados os relatórios não-financeiros de 88 empresas que compõem o Ibovespa, principal índice da B3.
As conclusões da pesquisa mostram que a pauta ambiental segue avançando, assim como a da diversidade entre os altos cargos das companhias. No entanto, no caso desta última, os números ainda são muito baixos e demandam prioridade. O levantamento ainda mediu o quanto as empresas aderiram a pactos e índices internacionais sobre temas ligados à pauta ESG e aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Por exemplo, a pesquisa indica que a porcentagem de organizações que aderiram ao Índice de Carbono Eficiente da B3 (ICO/B3) passou de 42% em 2020 para 72% em 2021, e 35% aderiram ao Índice CDP Brasil Resiliência Climática (ICDPR-70), lançado em 2020 pela ONG internacional CDP. Em relação aos pactos, o crescimento foi menor, mas ainda significativo: 96% aderiram aos ODS, ante 90% em 2020, e 24% informaram que estão no Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção – no ano anterior, eram 9%.
A importância de aderir a esses pactos é mostrar ao mercado o comprometimento com determinada causa. “Ao aderir, os colaboradores acabam tendo contato com profissionais de outras organizações em grupos de trabalho tem ideias, compromissos. Se torna muito interessante”, comenta Emanuel Colombari, sócio da PwC Brasil. Leonardo Dutra, membro do Grupo de Trabalho Sustentabilidade ESG do Ibracon, atribui o crescimento a uma maior atenção puxada pela COP 26 – reunião realizada em Glasgow, no Reino Unido, em novembro de 2021 para debater questões ambientais por representantes dos países e do setor privado. A COP 27 está sendo realizada neste ano no Egito, entre 6 e 18 de novembro.
Entre os ODS, mais de 80% das organizações responderam que buscam ajudar no de número 8, ”promover empregos dignos e crescimento econômico”. Entre 60% e 80% afirmam que buscam ajudar na igualdade de gênero, consumo responsável, redução das desigualdades e combate às mudanças climáticas. Outros, porém, apareceram em menos de 40% dos relatórios, como a erradicação da pobreza – de acordo com os autores, por uma falta de clareza de qual seria o papel do setor privado nessas metas, que devem ficar mais a cargo de entes estatais.
A escolha por um foco mais específico também ficaria claro no estudo ao se avaliar os temas materiais para a ação citados, nos quais a maioria teve um decréscimo de 2020 para 2021. Por exemplo, a atenção às condições de trabalho foi citado em 81% dos reportes, ante 91% do ano anterior, e os impactos socioambientais, foram de 70% para 58%. Não significa que as empresas deixaram de levar as ações em conta, mas que escolheram em quais prestar mais atenção.
Ambiental
Em relação aos temas ambientais, a descarbonização foi o principal tema avaliado na pesquisa: 82% das empresas divulgam a quantidade total de emissões de gases de efeito estufa, nos três escopos – o escopo 1 avalia o processo produtivo da empresa; o 2, os gases gerados na energia consumida; o 3, as emissões indiretas, ao longo da cadeia produtiva. 11% não divulgam as emissões e 7% apenas as de escopo 1 e 2.
Além disso, 57% divulgam metas de redução das emissões e 43%, não. Entre as metas, 41% são de carbono neutro para todos os escopos, 20% de carbono neutro para os escopos 1 e 2, 2% para o escopo 1 e 37% têm metas intermediárias, ou seja, a meio caminho antes de buscar reduzir as emissões ao máximo possível e compensar o restante com outras ações, chegando ao chamado ‘net zero’.
Segundo Colombari, o número não é ruim, dado o que se acompanha nas pesquisas do tipo no Brasil e no exterior. “É claro que enquanto não estiver 100% estaremos insatisfeitos. Mas pode ser que a empresa não considere o tema como principal por ser de serviços, por exemplo, ou que esteja numa jornada e tenha um receio de compartilhar as metas e compromissos. Mas é um percentual interessante de empresas já com metas”, diz o sócio da PwC. Também é importante garantir que as metas são baseadas na ciências e são passíveis de serem alcançadas.
Diversidade
Por outro lado, a baixa diversidade foi o principal ponto negativo. Por um lado, a maioria das empresas divulga métricas para a inclusão – 99% nas de gênero e 69% nas de raça, entre outras, como para pessoas com deficiência e LGBTQIA+. Por outro, a média é de 30% de mulheres em cargos de liderança (com mínimo de 6% e máximo de 75%) e 15% em cargos de conselho (variações entre 0% e 33%).
Em termos de raça, a situação é ainda pior. Poucas empresas revelam dados sobre a presença de pessoas negras na liderança (49%) e no conselho (apenas 14%). Dessas, 15% é a média de pessoas negras em cargos de liderança (houve um mínimo de 0% e máximo de 45%) e 3% é a média de pessoas negras no Conselho de Administração (com variações de 0% a 20%).
“É necessário que as empresas coloquem a diversidade como prioridade, e tenham ações estratégicas para conseguir avançar rumo a uma distribuição mais equilibrada, quando a gente olha para liderança e conselho”, cita Colombari. Valdir Cascodai, presidente do Ibracon, ressalta que o mais importante é agir. “Não se deve ter medo de divulgar se estiver ruim, desde que tenha um programa para melhorar”, comenta, e lembra como exemplo que a presença de mulheres aumentou ao longo das décadas no setor de auditoria, até que elas chegassem a cargos de liderança, segundo sua própria visão.
Outros dados
Outro ponto que foi avaliado foi em relação ao compliance e controles internos contra corrupção. 71% das empresas divulga casos do tipo, 5% a mais do que no ano anterior. 93% informa a existência de canais para denúncias, e a maioria conta com estatísticas do período – 72%, um grande avanço em relação aos 57% de 2020. “As empresas agora tratam como algo que foi mais incorporado à agenda por já estar enraizado. Elas evoluíram bastante no tema”, comenta Dutra.
A asseguração das informações prestadas nos relatórios não financeiros ainda pode evoluir. Apesar da queda no número de empresas que não realizam uma verificação de 42% em 2020 para 35% em 2021, o número demonstra que há espaço para melhora para a presença de auditores externos que confirmem os dados. Por outro lado, a unificação de normas internacionais para relatórios de ESG, buscada por entidades internacionais, pode contribuir no tema.
A asseguração pode evitar que os relatórios se tornem meras cartas de intenções, ou seja, sem muitas informações precisas nem ações. Isso é evitado a partir do momento em que se definem critérios e padrões e uma auditoria confirma a veracidade de tudo que foi prestado. A garantia é necessária para os avanços enquanto o prazo para cumprir os ODSs se aproximam – propostos em 2015, a ONU espera realizá-los até 2030. “Já passamos do tempo da conversa. Agora é a década de ação. Se até 2030 não fizermos nada, depois vai ser tarde demais”, alerta Dutra.


Fonte: Estadão

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