Confiança e coesão econômica são fundamentais para resultados em novo governo
Em todo o mundo, as eleições democráticas oferecem aos países a oportunidade de renovar internamente o clima de confiança necessário para o início de novos ciclos políticos e econômicos. Também o Brasil, com o desfecho da disputa presidencial, poderá experimentar esse tipo de efeito. Todos participamos das escolhas que foram feitas. Agora, um novo quadro representativo terá a responsabilidade de enfrentar os desafios, propor as soluções e obter a necessária credibilidade para construir maiorias em torno de suas metas. Assim é a democracia.
Expectativas positivas são ainda mais importantes num momento em que o mundo navega por graves incertezas, entre elas, riscos de recessão global, uma guerra que não dá sinais de acabar, pressão inflacionária geral e aumento dos juros. A coesão social e a participação de todos os segmentos da sociedade serão decisivas para a superação dos complexos desafios que temos à frente.
Um dos pais da moderna teoria econômica, John Maynard Keynes, foi um dos primeiros a apontar a expectativa positiva dos agentes econômicos como elemento-chave para a valorização dos ativos, o aumento do consumo e mais investimentos. O seu livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicado em 1936, deu a base teórica para as métricas que, ao longo dos anos, servem para trazer a valor presente o preço futuro dos ativos, de acordo com a visão que leva em conta a dinâmica futura da curva das taxas.
Um dos artífices dos anos de prosperidade econômica na administração Bill Clinton, nos EUA, o ex-secretário do Tesouro Larry Summers conseguiu definir numa frase o valor intangível da convicção coletiva. “A confiança é a forma mais barata de estímulo econômico”, apontou.
No Brasil, a sensibilidade coletiva sobre temas econômicos é bastante aguçada. Quase trinta anos depois, ainda desfrutamos de uma memória afetiva em relação ao Plano Real. Sem que houvesse confiança da população em seus resultados, o programa não teria prosperado, tal a complexidade dos modelos adotados para a transição de uma moeda inflacionada para outra, zerada da corrosão monetária.
Na atual conjuntura, os indicadores apontam na direção de um razoável conjunto de desafios internos e externos a superar. Sem união em torno de propósitos comuns, o potencial de solução se torna restrito. Abrir mão de interesses individuais e corporativos será fundamental para catalisar a construção de uma agenda positiva para a estabilidade fiscal, passo necessário para abrir espaço aos intensivos investimentos sociais de que necessitamos.
Fonte: Estadão