Fed define taxa de juros nos EUA nesta quarta; saiba o que esperar e como isso afeta o Brasil

NOVA YORK – Pressionado a conter a escalada da inflação nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anuncia nesta quarta-feira, 27, sua decisão sobre a taxa de juros no país ao fim da reunião de política monetária, às 15 horas (horário de Brasília). A subida nos juros americanos afeta diretamente os investimentos e o câmbio no Brasil, porque tende a levar a uma saída de investidores de países emergentes.

A expectativa da maioria dos economistas do mercado financeiro é de que o Fed deve promover um novo aumento de 0,75 ponto porcentual nos juros básicos dos Estados Unidos. Se confirmado o movimento, a taxa básica nos EUA, a dos Fed Funds, subirá para o intervalo de 2,25% a 2,5% ao ano, o maior patamar desde dezembro de 2018.

Alguns economistas não descartam a possibilidade de o Fed ser ainda mais agressivo após a divulgação recente de dados de inflação piores do que o previsto. Cerca de 25% dos economistas do mercado financeiro entrevistados em um levantamento do CME Group, apostam em uma alta de 1 ponto percentual na taxa de juros.

A chance de o Fed ir além neste mês e subir os juros em 1 ponto porcentual na reunião deste mês ganhou coro em Wall Street após dados do mercado de trabalho e a inflação nos EUA mais fortes que o esperado. O índice de preços ao consumidor dos EUA (CPI, na sigla em inglês) teve alta de 1,3% em junho, saltando a 9,1% no ano, o maior desde novembro de 1981.

esidente do Fed; pressão para controlar a inflação nos EUA Foto: Kevin Dietsch/AFP – 17/06/2022

No entanto, os diretores da autoridade monetária correram nas últimas semanas para acalmar as expectativas, o que fez parte do mercado voltar atrás. O banco Citi chegou a projetar avanço de 1 ponto porcentual no encontro deste mês, mas revisou a estimativa e agora segue o consenso do mercado.

Além dele, o britânico Barclays, que puxou a fila de uma elevação maior na reunião passada, de 0,75 ponto, também prevê outro aumento desta ordem agora. Na pesquisa do CME Group, 75% dos economistas preveem uma alta de 0,75 ponto.

“O Fed não gosta de surpreender no aumento de taxas. Se quisesse aumentar os juros em 100 pontos-base (1 ponto porcentual), teria sinalizado. Mas todos (os membros) disseram que não, que um aumento de 75 pontos-base está bom”, disse o novo economista-chefe do Bank of America para os EUA, Michael Gapen, em entrevista recente ao Estadão/Broadcast.

Impacto na atividade econômica
Se por um lado, uma nova alta de 0,75 ponto em julho ajude a controlar a inflação, por outro, joga luz ao impacto na atividade econômica dos Estados Unidos. Essa é uma preocupação do mercado, uma vez que a alta de juros pode levar à recessão.

Neste mês, o Bank of America passou a prever uma “recessão leve” no país este ano, reforçando o coro de Wall Street. Durante as teleconferências de balanços de empresas de capital aberto nos EUA do segundo trimestre, a palavra recessão esteve presente.

“Embora o sentimento tenha mudado, poucos dados que vejo me dizem que os EUA estão à beira de uma recessão”, afirmou a presidente do Citigroup, Jane Fraser, para quem é “altamente improvável” uma desaceleração mais aguda do que outras na memória recente dos EUA.

Futuro do ‘forward guidance’
Para além da decisão sobre a taxa de juros, os bancos de Wall Street também aguardam sinais dos próximos passos do Fed. Uma dúvida é se a autoridade monetária abandonará ou não a divulgação de orientações para as futuras reuniões (política conhecida como ‘forward guidance’ no jargão do mercado financeiro) assim como fez o Banco Central Europeu (BCE), na semana passada.

O presidente do Fed, Jerome Powell, já deixou as portas abertas para tomar esse passo. Na reunião de junho, Powell disse que o forward guidance ainda era crível, mas dependia de dados e circunstâncias econômicas. No fim do mês passado, ao voltar ao tema durante fórum do BCE, em Portugal, Powell reforçou que o forward guidance sempre estará condicionado aos eventos macroeconômicos.

Por isso, o foco de investidores e economistas estará na coletiva de imprensa que o presidente do Fed, Jerome Powell, concede após a divulgação da decisão.

“Esperamos que Powell enfatize que a decisão permanece dependente de dados, embora o comitê ainda esteja procurando elevar as taxas ‘rapidamente’ na ausência de evidências ‘claras e convincentes’ de que a inflação caiu”, dizem os economistas Jonathan Millar, Pooja Sriram e Chun Yao, do Barclays, em comentário a clientes.

Antes da próxima reunião do Fed de setembro, deve ocorrer, no fim de agosto, o Simpósio de Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas City. O evento é sempre bastante aguardado pelos mercados financeiros por ser considerado uma espécie de prognóstico sobre o futuro da política monetária global.

“Esperamos que o Fed abra mão de um ritmo agressivo de alta de juros a partir de setembro, na medida em que o fortalecimento do dólar ofusca a inflação e os preços da gasolina já foram assimilados”, afirma o banco americano Jefferies.


Fonte: Estadão

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