Modelo híbrido exige regras flexíveis de empresas, aponta estudo

Pesquisa da WeWork com mais de 10 mil profissionais aponta caminhos para equilíbrio entre o que empresa decide e o que funcionário prefere; 2 a 3 dias de trabalho presencial são o ideal para 70%
Ludimila Honorato, O Estado de S.Paulo



A pergunta sobre qual é o melhor modelo de trabalho está e, provavelmente, ficará em aberto por mais um tempo. Mesmo que diversas pesquisas indiquem o modelo híbrido como preferido da maioria, não se pode esquecer de quem opta pelo 100% presencial. O desafio é encontrar um equilíbrio para atender as complexidades humanas, em que o funcionário sente falta da interação com colegas no escritório, mas não quer desperdiçar tempo no deslocamento.

Não há resposta única, definitiva e que funcione para todos, mas ficar parado está fora de questão. Neste momento, ouvir, testar e estar aberto a mudanças de rota é papel de companhias e gestores, que devem pensar também em regras flexíveis e adequadas a cada equipe.

Essas são algumas das análises trazidas pela pesquisa \”Redefinindo os modelos de trabalho na América Latina\”, feita pela WeWork em parceria com a HSM e com o apoio da consultoria Egon Zehnder, apresentada nesta terça-feira, 15. O levantamento ouviu mais de 10 mil lideranças e executivos do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru para entender quais são as novas prioridades, demandas e valores dos profissionais diante das mudanças e desafios lançados em meio à pandemia.

Entre os respondentes, 75% sentem-se seguros para retornar aos escritórios e 81% prefere o modelo híbrido, sendo que de dois a três dias presenciais seria ideal para 70% deles. Além disso, os profissionais consideram que, numa escala de 0 a 5, o nível de produtividade individual no modelo misto é maior (4,5) do que no presencial (4), bem como houve aumento da concentração, percebido por 57% das pessoas.

Embora a percepção não seja nova, o desafio é englobar os 5% que querem trabalhar no escritório e entender o que fazia o nível de concentração ser menor naquele espaço. Simultaneamente, pode-se trabalhar na percepção de que, para 52% dos executivos, o escritório do futuro não é um local fixo, mas uma rede de espaços e serviços.

O caminho para chegar ao equilíbrio é igualmente complexo. “(Isso muda) a partir do momento que não precisa ter a mesma regra para todos, não pensar que a maioria quer isso ou a minoria quer aquilo. Talvez, ter liberdade para repensar tudo. É tudo sobre ser flexível, ágil, estar aberto à inovação, a testar, a partir das hipóteses, aprender e, a partir dos aprendizados, aumentar apostas”, disse Felipe Rizzo, CEO da WeWork no Brasil, em encontro com jornalistas de que o Estadão participou.

“O ponto que fica é que: tentar acertar sem experimentar fica maior a chance de insucesso. O convite é não esperar achar que está certo, porque pode tomar muito tempo para ver que não. Vá no caminho do que evitar, qual direção ir, para aprender junto, e faça isso escutando (os colaboradores). Dentro dos conceitos do que quer seguir, se tiver bom direcional, propósito de como se relacionar com funcionário, isso vai ser mais importante do que a resposta em si. A primeira resposta é só parcial”, completa.

Modelo híbrido com propósito e valor
Claudia Woods, CEO da WeWork para a América Latina, trouxe algumas provocações às empresas diante dos resultados da pesquisa. Uma delas é sobre 41% dos entrevistados dizerem que pode haver um rodízio entre os colaboradores da mesma área dentro do modelo híbrido, cabendo a cada membro do time a decisão. Segundo ela, a liberdade é positiva, mas pode colocar em cheque a produtividade.

“Não faz sentido ir se a pessoa que seria mais importante não estiver no escritório comigo. A conversa não é só sobre quantidade de dias, mas como serão, como reúno a equipe. Não podem ser aleatórios, que não vão agregar valor à organização”, disse durante o evento de apresentação.

Na pesquisa, 41% dos executivos veem valor em ter espaços de trabalho em comum, o que para ela representa uma disrupção do modelo de negócio. “As pessoas não querem ir para o escritório e sentar para responder e-mails, elas querem encontro com propósito. Vamos garantir que nós, líderes, estejamos olhando isso.”

“Acredito que os modelos de trabalho híbrido vão durar um semestre, no máximo, porque estamos aprendendo e isso é desconfortável, com nível de incerteza, mas temos de ter um futuro que criamos, que estamos abertos a mudanças”, disse.

Poder escolher de onde trabalhar
Outros dados sobre ambiente de trabalho reforçam os insights acerca da necessidade de diversificar, como o de 31% de pessoas que estão dispostas a abrir mão de algum benefício em troca de escolher onde querem trabalhar. Além disso, 62% gostam da possibilidade de ter um apoio para trabalhar de casa ou em ambientes compartilhados. O desejo, porém, destoa da realidade e ainda há desafios para que as empresas adotem esse benefício.

“O grande desafio é de mindset. O primeiro ponto é que, ainda que não tenha todas as respostas, pode dar um passo. Não é trivial e intuitivo para todos, principalmente o conceito de espaço compartilhado, que é relativamente novo. Muitas vezes, as pessoas desconhecem a complexidade da gestão de espaço compartilhado e não conseguem perceber os benefícios que o ambiente traz. A partir do momento que entra em espaço compartilhado, tem ajuda para pensar com time de RH, ajudando time de facilities para não pensar em impressora, ar-condicionado, limpeza”, comenta Rizzo.

Ele completa que essas facilidades contribuem para equipe com maior escala para resolverem problemas enquanto o gestor pode se concentrar no core business e no que for mais importante para a companhia. Outro desafio, segundo o CEO, é a dificuldade de quantificar o quanto esses ambientes fomentam a inovação.

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Fonte: Estadão

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