Dividido, Cade aprova compra fatiada da Oi pelas três maiores concorrentes
Claro, Vivo e Tim pagaram R$ 16,5 bi por quarta maior operadora, em recuperação judicial
Julio Wiziack
Brasília
Dividido, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou com restrições, nesta quarta-feira (9), a compra das redes móveis da Oi pelas operadoras de telefonia Tim, Vivo e Claro por R$ 16,5 bilhões.
Três dos seis conselheiros votaram pela reprovação do negócio, que só foi aprovado devido ao voto de minerva do presidente do órgão, Alexandre Cordeiro de Macedo.
O valor a ser pago será dividido entre as três empresas. A Tim desembolsará R$ 7,3 bilhões, a Vivo, R$ 5,5 bilhões, e a Claro, R$ 3,7 bilhões.
Na semana passada, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) já tinha aprovado a venda da Oi com restrições para as três concorrentes.
Em síntese, os remédios propostos para reduzir a concentração de mercado preveem a oferta para terceiros de infraestrutura sem qualquer tipo de discriminação, especialmente no preço.
Também estabeleceu-se o compromisso de oferecer ao mercado, em caráter secundário, frequências da Oi que não estiverem sendo utilizadas. Frequências são avenidas no ar por onde as operadoras fazem trafegar seus sinais.
A operação, na prática, significa um fatiamento da Oi entre os três maiores concorrentes, o que levou a questionamentos de outras empresas do setor —Algar e Sercomtel— junto ao Ministério Público Federal.
De acordo com a decisão da Anatel, e que foi ratificada pelo Cade, as três empresas deverão dividir os clientes da Oi entre si. A Tim deve ficar com cerca de 14,5 milhões (36,25% do total), a Vivo com 10,5 milhões (26,25%) e a Claro com os 15 milhões (37,5%) restantes.
Com esse rateio, as empresas ampliam sua atual participação de mercado. A Vivo, que antes possuía cerca de 83,3 milhões de clientes –ou 32,9% do mercado– passa para 93,8 milhões (37,1%).
A Claro, que antes detinha uma carteira com 70 milhões de assinantes (27,7% do total), salta para 85 milhões (33,6%). A Tim, que atendia 52 milhões de clientes (20,6% do total), passará para 66,5 milhões (26,3% do total).
Embora a Claro seja a operadora que mais clientes vai herdar com a compra da Oi, a maior interessada era a Tim. Isso porque, além dos clientes, a operadora controlada pela Telecom Italia ficará com frequências e demais insumos de infraestrutura (rede) da Oi móvel em áreas onde ela não tinha realizado investimentos por conta própria de forma massiva.
Em um primeiro passo para a migração dos clientes, as empresas terão de enviar um aviso sobre a transferência. Caso não aceitem, as teles terão de migrá-los para a operadora desejada pelo cliente. Até lá, o cliente continuará a ser atendido pela Oi.
A venda da Oi foi realizada na Justiça porque a empresa encontra-se em recuperação judicial. O negócio foi condição necessária para que a companhia consiga sair da vala da recuperação judicial. Em 2016, com uma dívida de R$ 65 bilhões, a Oi foi à Justiça para tentar evitar a falência.
A situação financeira foi discutida nesta terça-feira (8) entre os conselheiros da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e os do Cade. A reunião tinha sido marcada a pedido do presidente do órgão antitruste, Alexandre Cordeiro.
Durante o processo de leilão do braço móvel da operadora, a Sercomtel, controlada atualmente pelo empresário Nelson Tanure, apresentou uma proposta de compra por meio da Copel Telecom. Tanure já foi um importante acionista da Oi e hoje continua como minoritário.
A Highline e a Algar Telecom também fizeram ofertas em juízo, mas elas foram vencidas.
Ao Cade, Sercomtel e Algar acusaram Tim, Vivo e Claro de formarem um consórcio nos bastidores sem comunicar previamente o órgão de defesa da concorrência sobre o negócio que suas concorrentes tentavam realizar, algo proibido pela legislação que regula a livre concorrência no país.
Algar Telecom e Sercomtel pediram a reprovação do negócio ou a aprovação com remédios estruturais que pelo menos garantissem a existência de um quarto concorrente de porte no mercado.
Entre as medidas sugeridas pelas empresas, estava a venda dos ativos da Oi regionalmente para concorrentes locais ou novos entrantes.
Tim, Vivo e Claro, por meio de seus advogados, reforçaram antes da sessão de julgamento no Cade que o negócio foi transparente e discutido perante a Justiça, afastando qualquer tipo de irregularidade ou ilicitude.
Três conselheiros —Luis Henrique Braido, Paula Farani de Azevedo e Sérgio Ravagnani— votaram contra a operação. Para eles, os remédios apontados para reduzir ao máximo a concentração do mercado não foram suficientes.
\”Os remédios são cosméticos\”, disse Ravagnani durante seu voto.
Para a conselheira Paula Farani de Azevedo, que encerrou seu mandato nesta quarta-feira, a operação não poderia ser aprovada com o argumento de que seria a tábua de salvação para a Oi.
\”Não cabe ao Cade garantir a viabilidade financeira econômica da Oi\”, disse a conselheira. \”A operação é fundamental para viabilizar a recuperação judicial da Oi e os remédios não foram suficientes para dar conta.\”
Em seu pronunciamento, Braido foi duro ao considerar que a proposta de remédios das empresas representa um golpe contra a imagem do Cade.
\”A empresa [Oi] desconsiderou a proposta de um entrante [Copel Telecom] para ter um prêmio de 10%, provavelmente\”, disse Braido. \”Como julgador, me parece que as requerentes apostaram no poder de captura do estado e não quiseram negociar remédios firmes, porque tinham certeza de que isso iria adiante.\”
Com o empate, o negócio foi aprovado mediante voto de minerva do presidente Alexandre Cordeiro de Macedo.
Entre as empresas que trouxeram maior peso negativo para o Ibovespa nesta quarta, as ações da Oi caíram 2,88%. Tim e Vivo avançaram 5,06% e 2,72%, nessa ordem.
Fonte: Folha de São Paulo